02/03/2018

Filme: Terra em Transe

Título: Terra em Transe
Gênero: Drama
Direção: Glauber Rocha
Produtora: Mapa Filmes
Ano de lançamento: 1967
Duração: 106 minutos
Elenco: Jardel Filho (Paulo Martins), Glauce Rocha (Sara), José Lewgoy (Felipe Vieira), Paulo Artran (Porfírio Diaz), Paulo Gracindo (Julio Fuentes), Mário Lago (Capitão), Hugo Carvana (Álvaro), Francisco Milani (Aldo), Jofre Soares (Padre Gil), Danuza Leão (Silvia).
Minha Avaliação: ♥ ♥

Terra em Transe é um daqueles filmes que, ao finalmente conseguir terminar de assisti-lo, você se pergunta "o que foi que eu acabei de ver?". Considerado uma das principais obras do período e um dos melhores filmes do meu conterrâneo, o diretor Glauber Rocha, Terra em Transe cria um cenário fictício para tratar de um assunto real: as sujeiras da política. Mas eu preciso ser sincera com vocês: não gostei.

No país fictício de Eldorado, Paulo Martins (Jardel Filho) é um jornalista, idealista e poeta ligado ao político conservador em ascensão Porfírio Diaz (Paulo Autran) e à sua amante, Silvia (Danuza Leão), com quem ele também possui um caso. O filme começa com Paulo ferido de morte durante um golpe de Estado que põe fim a seus sonhos revolucionários. Ele recapitula a vida política de Eldorado e reavalia sua própria trajetória no decorrer do filme. O filme então volta como em flashback para quando Diaz se elege senador, mas Paulo se afasta e vai para a cidade de Alecrim, onde conhece a ativista Sara (Glauce Rocha). Juntos, eles resolvem apoiar o populista Felipe Vieira (José Lewgoy) em sua candidatura a governador, na tentativa de lançarem um novo líder político, supostamente progressista, que promova a mudança da situação de miséria e injustiça que assola Eldorado. 


Perceba que Eldorado e sua situação política-social se assemelha tanto ao Brasil, quanto a outros países da América Latina na década de 60-70, período no qual foi gravado o filme (que de certa forma se estende até hoje). O país fictício tem governantes corruptos no poder, tanto de esquerda quanto de direita, o que deixa o povo sem rumo. Quando aparece qualquer líder populista, cheio de promessas, este povo festeja e trata-o como o salvador da pátria.


Ao se deparar com um governador fraco e facilmente controlado pela elite econômica que ajudou Felipe Vieira a se eleger, Paulo, desiludido, desiste de continuar apoiando Vieira e retorna à capital, onde entra numa vida de orgias e crises existenciais. Julio Fuentes (Paulo Gracindo), o maior empresário do país, que Paulo e seus amigos haviam convencido a apoiar o líder populista Vieira, resolve mudar de lado e apoiar a candidatura do senador Diaz à presidência, ao saber que ele possui apoio econômico da poderosa multinacional Explint. Fuentes cede um canal de TV para Paulo para que este faça campanha para Diaz. 


Sara sugere a Paulo resolve utilizar o espaço justamente para o contrário: atacar o candidato. Denunciado como traidor por Diaz, Paulo se liga à campanha presidencial de Felipe Vieira, que também resolve concorrer à presidência. A festa popular corre solta durante a campanha e os comícios de Vieira, e é perturbada somente alguma vezes por atos de repressão violenta àqueles que são contra o candidato, ou que simplesmente resolva questionar o poder público. Só que o próprio povo contribui para o crescente entusiasmo da campanha populista de Vieira. A direita, liderada pelo candidato Diaz com a ajuda de Fuentes e da multinacional Explint, temendo uma derrota eleitoral, começa a preparar um golpe de estado surreal. No final, Terra em Transe avança para a agonia de Paulo Martins que vimos no começo, e alterna entre a morte do poeta e a coroação de Diaz - sim, Diaz resolve se tornar imperador de Eldorado, uma coisa a la Napoleão Bonaparte.


A narrativa de Terra em Transe é um relato de uma vida dominada por ilusões políticas - no caso, a vida de Paulo, que constantemente se ilude com os líderes que resolve apoiar, e do próprio povo, que põe suas esperanças em qualquer um que prometa comida e terra para plantar. A intenção de Glauber Rocha é também mostrar as diferenças sociais, os embates políticos e ideológicos, o choque entre o povo e o poder, o uso da força militar ou do assassinato político para garantir que o poder permaneça nas mãos dos mais fortes. Eu compreendo perfeitamente todos os prêmios que este filme recebeu, por justamente ter a coragem de se lançar numa época em que foi considerado subversivo e proibido no Brasil (e até em Portugal), por justamente criticar a política brasileira, em todas as suas tendências.


Uma das muitas coisas que não gostei do filme é sua massante declamação de poesias. O tempo inteiro Paulo para tudo o que está fazendo para declamar algumas palavras poéticas, relacionadas com o que está ocorrendo na cena, mas que achei muito caricato. As cenas também foram bastante confusas, ao ponto de ter hora que eu não sabia quem era quem. A problemática do filme não é tão clara. Geralmente ao ver um filme que eu ainda não tenha ouvido falar, ou antigo como esse, eu leio sua sinopse, e acompanho em seguida a história numa boa. Este, nem assim resolveu, para entendê-lo eu tive que ler muito sobre ele depois que terminei de assistir. 


Em relação à parte técnica do filme, cometeram o pecado de em muitas cenas deixar  a música mais alta que as falas dos personagens, e aí 'bora se esforçar para entender o que a pessoa estava falando. Outra situação que também ocorre com relação à trilha sonora do filme, é que muitas vezes ela se misturava ao som ambiente, que dessa vez era mais alto que a música, o que a fazia perder sua emoção por conta dessa bagunça sonora. Glauber pode ser um mestre do cinema, mas para mim, Terra em Transe não é seu melhor filme. Ele pode ter tido um ótimo roteiro, ser de uma importante crítica social, mas eu achei que essas crítica não foi bem exposta. Fico com Deus e o Diabo na Terra do Sol, infinitamente melhor. 

Trailer:


Esse filme foi um dos três escolhidos para o Vestibular da UESB 2018. Leia as resenhas de Jonas e o Circo Sem Lona AQUI e de Dheepan - O Refúgio AQUI.


9 comentários:

  1. Até que para a época em que o filme foi lançado, é uma novidade que a história não tenha seguido o caminho de tantos; A quase pornografia.
    Infelizmente era o que mais acontecia!

    Apesar do filme ter sido importante e premiado, não assisti.
    Aliás esse é o primeiro comentário que leio sobre ele.
    E posso estar errada, mas não gosto de filmes do gênero.
    Mas esse deve ter tido a sua importância quando foi lançado.
    Talvez atualmente não faça tanto sentido assim.

    Abraços.

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    1. Os filmes de Glauber Rocha são mais psicodélicos e tem sempre alguma crítica política/social (final da década de 60/inicio de 70, ditadura no Brasil, aquela coisa toda). Mas esse realmente foi intragável rs. Não tem cenas de sexo (as cenas de orgia que eu citei, é so a galera se beijando, se abraçando e bebendo, pra dar uma ideia de que Paulo estava desnorteado). Porém, bem complicadinho de entender.

      Beijo!

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  2. Fiquei parada aqui tentando entender a imagem da capa do filme por uns 5 minutos e ainda não sei o que é kkkkkkk
    Nunca tinha ouvido falar do filme, talvez por não gostar tanto assim de política ou por ser um pouco antigo..
    Pena que você não gostou tanto assim, não tiro sua razão, deve ser péssimo o filme mostrar declamações de poesia de tempos em tempos quebrando o desenrolar natural das coisas.

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    1. Em cima é o corpo do ator que faz Paulo segurando uma arma. O corpo dele se estende pra um corpo feminino de cabeça pra baixo (acho que é a personagem Silvia). Eu também demorei pra entender, primeiro achei que o ator estava nu da cintura pra baixo kkkk

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  3. Nunca ouvi falar desse filme, mas gostei. Acabei de ler um livro sobre politica e corrupção e agora estou meio que nessa vibe (acho que é por ser ano de eleição!) vou procurar esse filme para assistir, pelas imagens parece um filme muito atual mesmo sendo antigo. Bom saber sobre a trilha sonora pois assim já tento assistir com fones para capturar melhor as falas.

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    1. Que bom que se interessou, Samantha. Se gostae, depois assista Deus e o diabo na terra do sol, e Barravento, ambos são do mesmo diretor, super aclamados! E eu também assisti esse com fones, depois de um tempo, mas mesmo com eles ainda continuava esse problema. Apesar de que sem eles, era pior rs.

      Beijo!

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  4. Olá Mariana,
    Nunca tinha ouvido falar nesse filme ou no diretor dele.
    Não planejo assistir esse filme pq não gosto de estórias relacionadas com política. Ainda mais que vc comentou que teve problemas com relação aos personagens.
    Pelo visto, mesmo o filme sendo de 1967, ainda mostra uma realidade presente no dia a dia relacionado com como as pessoas tratam políticos.
    Sei o quanto é frustrante o filme ter problemas de áudio (vários filmes atuais que eu assisto tem isso, as vezes tenho que assistir o filme num volume auto pra ouvir as falas e de repente começa uma música e eu acabo me assustando pq acaba sendo mais alta que a fala dos personagens hahaha)

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    1. E olha que este eu assisti com os fones, mas ainda assim, o problema de não conseguir ouvir a voz dos personagens durante algumas cenas onde a música de fundo era mais alta persistia. Soube que este filme foi produzido com pouco dinheiro (e inclusive o sucesso de Glauber Rocha veio disso, o chamado Cinema Novo, fazer cinema com pouca grana e revolucionar na história, criar um enredo que chama a atenção), então vai ver foi isso o culpado pelos problemas de audio rsrs

      Beijo!

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  5. Esse filme veio bem a calhar eu estava bem afim de assistir alguns filmes da década de 60 mas eu não sabia algumas indicações então eu vou conferir de novo o filme e dá uma olhadinha no trailer mas confesso que fiquei bem interessada

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