Gênero: Drama
Direção: Roberto Pires
Produção: Glauber Rocha
Elenco: Luzia Maranhão (Maria), Antônio Pitanga (Chico Diabo), Geraldo Del Rey (Ronny), Helena Ignez (Ely), Cuíca de Santo Amaro (ele mesmo), Roberto Ferreira (Zazá).
Ano de Lançamento: 1961
Duração: 91 minutos
Minha Avaliação: ♥ ♥ ♥ ♥
"[…] A feira vai ser engolida pelos tubarões. A Grande Feira vai acabar!"
- Poeta Cuíca de Santo Amaro.
O filme baiano A Grande Feira,
lançado em 1961 com direção de Roberto Pires e produção de Glauber Rocha, conta
a história da antiga feira de Água de Meninos. Água de Meninos é um dos
bairros mais históricos de Salvador-BA; um incêndio em 1964 destruiu a feira
que ali existia desde 1940, e os feirantes acabaram por mudarem-se para São
Joaquim, onde a feira existe até hoje.
Antiga praia de Água de Meninos, Salvador-BA. Foto: Guia Geográfico Salvador Antiga. |
No filme podemos ver a luta dos feirantes de Água de Meninos contra o despejo pretendido pelo governo em parceria com os "tubarões" – como são chamados os poderosos de uma empresa imobiliária, que
desejam muda-los para outro local menor para poderem ampliar o maior porto da
região, e obviamente, lucrarem muito com isso. Esse é o pano de fundo da
película, que é uma das precursoras do Cinema Novo, gênero cinematográfico
brasileiro que enfatizava a igualdade social e a intelectualidade, durante as
décadas de 1960 e 1970.
Foto: Caderno de Cinema |
Mas nessa grande feira também
encontramos as histórias que se cruzam da prostituta Maria (Luiza Maranhão), do
ladrão Chico Diabo (o divo Antônio Pitanga), do marinheiro sueco Ronny (Geraldo Del
Rey) e da socialite Ely (Helena Ignez). Maria é famosa por trabalhar no cabaré
do Zazá (Roberto Ferreira), e por ser envolvida com Chico, famoso por suas
ideias radicais e pelas tramoias que realiza, roubando joias para revender e cortando
pescoços de quem se mete em seu caminho. O marinheiro Ronny, de passagem por
Salvador, conhece Maria e acaba se envolvendo numa confusão com ela, sendo
esfaqueado pela mesma. Ele sobrevive, procura por ela e os dois acabam virando
amantes
Foto: Astros em Revista |
Ely, uma mulher casada da high-society e ignorada pelo marido, começa a frequentar o cabaré de Zazá com as amigas, na esperança de fugir da monotonia que é sua vida. É assim que conhece Ronny e acaba se apaixonando por ele, desejando inclusive largar tudo para viver com o sueco.
Foto: Gshow |
Procurado pela polícia por um
assalto a uma joalheria, Chico descobre a intenção de mover os feirantes
de Água de Meninos, e, querendo se vingar de tudo isso, começa a bradar que irá
por fogo na feira, explodindo os depósitos de combustível da Esso, vizinhos da
feira. Salve-se quem puder!
Foto: Lucio in the Sky |
Vários temas se misturam nessa
trama: racismo, corrupção, a condição da mulher, o ideal revolucionário, o
discurso populista dos políticos, o poderio de grandes empresas. A sociedade,
bem dividida entre ricos e pobres, se mistura n'A Grande Feira. Pode-se notar
que a proposta do filme era chamar atenção para o povo brasileiro e todas as
suas realidades – bem a cara do Cinema Novo.
Roberto Pires preferiu filmar em
praias, ruas, ruelas e becos reais da cidade, em vez de migrar para o estúdio. Isso
casou perfeitamente com a história do filme e de seus personagens, que trazia a
realidade urbana, a marginalidade, os trambiques, mas também a luta do povo
para obter e manter o seu ganha-pão.
O filme foi produzido com poucos
recursos financeiros, mas ainda assim soube ser bem feito a seu modo e tocar no ponto onde queria. Encarando apenas as atuações, o enredo, a forma de
filmagem – como por exemplo, quando o ângulo da câmera foca de forma diferente
no casal Ronny e Maria dançando no cabaré –, a fotografia (o mesmo camera-man que foi
utilizado em Deus e o Diabo na Terra do
Sol, de Glauber Rocha), trilha sonora e figurinos, o filme não deixa
desejar. Trazer o poeta Cuíca de Santo Amaro como ele mesmo no filme foi um
toque de mestre bem realista.
Como diriam os realizadores do filme,
relembrados por Arthur Dias em seu texto no blog Cine Cachoeira, A Grande
Feira é uma verdadeira "crônica amarga" de Salvador. Bom filme!
Trecho do filme:
*Esta resenha foi escrita para uma avaliação da disciplina Teoria da Imagem e do Som, ministrada pela profª Mary Weinstein, do curso de Jornalismo-UESB. Posteriormente, foi adaptada para o blog.
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