28/07/2021

Livro: Queda Livre

Livro: Queda Livre - Ou Diabo na Raba, a odisseia do Rock N' Roll

Autor: Anderson Bastos

Ano: 2021

Editora: não há

Número de páginas: 273

Minha Avaliação:

“Quem nunca quis ser um rockstar já morreu por dentro” (p. 48).

Quem curte o som do bom e velho rock n’ roll desde adolescente, provavelmente já deve ter se imaginado inúmeras vezes arrasando como um rockstar, na frente de uma multidão (de ursinhos de pelúcia ou bonecos de plástico), acompanhando - silenciosamente para não receber uma bronca dos pais - com seu microfone (provavelmente uma escova de cabelo ou um controle remoto) a sua música preferida enquanto ela tocava na rádio/ aparelho de som/ fones de ouvido, se contorcendo tal e qual o Iggy Pop ou o Mick Jagger (moves like Jagger, baby) e, claro, não podia faltar, tocando sua guitarra imaginária como um verdadeiro mestre do instrumento, mesmo sem entender nada de notas musicais - eu me achava a Slash no deserto de “November Rain” do Guns n’ Roses, diga-se de passagem.


Em Queda Livre, nós vemos esse sonho meio que virar realidade. Escrita pelo meu amigo e parceiro do @amadoslivros, Anderson Bastos, a história de Queda Livre, meio autoral, meio fictícia, retrata o sonho de três grandes amigos de possuírem uma única coisa: uma banda de rock, mais especificamente de hardcore e heavy metal.


Com toques de drama, romance e humor ácido, características do autor também encontradas em seu primeiro romance, “Com o Tempo”, Queda Livre - Ou Diaboaba, a odisseia do Rock N’ Roll, fala sobre amizade, música, amor, morte e o sentido da vida - “which someday we’ll may fiiiiiiind, carry ooon, it’s time to forget the remains from the past to carry on!” (peraí que eu me empolguei aqui, vamos voltar ao foco).


Música e tragédia se combinam (e não é de hoje), enquanto o narrador/personagem principal que não sabemos o nome (mas desconfiamos de quem se trata), e seus dois amigos de infância Oscar e Galego crescem e descobrem no rock o seu propósito no mundo. Da odisseia de sair de topic (mesma coisa que van) de Stella Maris até Itapuã, em Salvador, para comprar a primeira guitarra, uma Tonante (segundo o autor, seria o mesmo que a marca CCE de aparelhos eletrônicos, uma merda), até quase chegar a apoteose de tocar no Palco do Rock no Rock in Rio, tem muito chão pra percorrer.


Muitas caminhadas para aprender a tocar guitarra com outros amigos, muitos IRContros combinados pela internet no saudoso mIRC, um triângulo amoroso, protestos e manifestações políticas, muita música, descobertas de muitas bandas, especialmente as nacionais - como Angra - e as do cenário mais recente do rock baiano (pode chamar de cringe, porque são do final dos anos 90+), casas de shows, romances com muita paixão envolvida, amizades, idas e vindas, brigas, descobertas da sexualidade e identidade de gênero, e acidentes aéreos - não é à toa o nome do livro ser Queda Livre.


Pra quem não conhece o rock baiano (ora, e pra quem conhece também), esse livro é um prato cheio. Aqui vemos o nascimento, desenvolvimento e, em alguns casos, o fim, de algumas bandas baianas como Temporal, Parapeitos, Canto dos Malditos da Terra do Nunca, Vivendo do Ócio, Cascadura, Automata, e uma das banda da qual o protagonista fazia parte, que basicamente revolucionou o cenário do heavy metal ao criar um novo gênero misturando-o com o estilo mais odiado pelos metaleiros: o arrocha. Particularmente falando, eu achei isso genial!


Como dizia o ACDC, “rock n’ roll ain’t noise pollution, rock n’ roll it will survive, yes it will”. E pra sobreviver, na minha humilde opinião, o rock precisa se abrir, inclusive dentro de suas próprias tribos. A música, especialmente a brasileira, tão miscigenada, tem muita coisa boa por aí pra se manter presa em seus nichos e não se descobrir novos estilos e novas parcerias. Rock é mudança, é crítica ao status quo, quebra de padrões e paradigmas, não faz o menor sentido ir de encontro a tudo que sempre pregou vivendo preso a um conservadorismo. Mas vamos voltar ao livro antes que a discussão se alongue aqui.


Queda Livre tem tudo para ser um ótimo romance biográfico-fictício (até aqui rola uma mistura de gêneros literários, eu amo isso). A escrita de Anderson é muito envolvente, e eu diria até que este livro me prendeu mais que Com o Tempo. Outra genialidade foi introduzir alguns códigos QR no desenrolar da trama, que fazem o leitor se situar dos lugares e músicas que estão sendo descritas. Só tenho uma crítica, em relação ao meio da história, quando ele começa a descrever muito sobre essas bandas do cenário baiano, tem alguns momentos meio maçantes, porque achei que se alongou demais ao contar a biografia delas, quando creio que o foco poderia ter sido mais nas histórias vividas pelo protagonista, seus amigos e suas bandas. Depois disso, o livro volta a se desenrolar com mais fluidez. Mas enfim, é um livro que me entregou bem mais do que eu esperava e saber fazer isso na literatura não é nada fácil. Queda Livre - Ou Diabo na Raba, a odisseia do Rock N Roll, foi uma das obras contempladas pelo Prêmio das Artes Jorge Portugal 2020 - Premiação Aldir Blanc Bahia, Literatura, categoria criação. O projeto tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.




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