Autor: Aluísio Azevedo
Editora: Martin Claret
Ano: 1980
Número de Página: 232
“Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. [...]”
O Cortiço é uma obra que representa a máxima expressão do Naturalismo Brasileiro (Naturalismo é uma escola literária caracterizada por seu extremo realismo, baseado na observação da realidade e experiência, mostrando assim que o indivíduo é determinado pelo meio e pela hereditariedade.), onde os personagens principais deste livro são os moradores do cortiço. Além dos humanos, o próprio cortiço torna-se um personagem, ganhando vida através de seus moradores.
“E durante dois anos o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta implacável que lhe crescia junto da casa, por debaixo das janelas, e cujas raízes, piores e mais grossas do que serpentes, minavam por toda a parte, ameaçando rebentar o chão em torno dela, rachando o solo e abalando tudo.”
A narração em terceira pessoa, onisciente, não mantém o foco em um único personagem, entretanto a maioria dos fatos giram em torno do português João Romão, que pode ser considerada a perfeita metáfora para o capitalismo selvagem, ele só gasta dinheiro com coisas que poderão dar a ele mais dinheiro, ele explora seus empregados, e utiliza até do furto para alcançar seu objetivo: enriquecer. Ele é o dono do cortiço, da pedreira e da taverna. Sua amante Bertoleza, o ajuda todos os dias sem exceção.
Em oposição a Romão, há Miranda, seu vizinho rico, e também português. Ele invejava Romão por conseguir seu dinheiro através de seus próprios esforços, enquanto ele, havia conseguido sua riqueza de modo fácil, apenas casando-se com Estela (ou seria, melhor dizer, casando-se com o dote de Estela, já que os dois se odeiam).
Paralelo a isso, há as histórias dos moradores do cortiço, como Piedade e Jerônimo, Rita Baiana e Capoeira Firmo. Um exemplo de como o livro tenta demonstrar a influência do meio sobre o homem pode ser visto na transformação que ocorre a Jerônimo. Ele possuía uma vida exemplar até o momento que interessou-se pela mulata Rita Baiana. A partir daí ele passa de trabalhador responsável, a um malandro preguiçoso. Existem muitos outros personagens como Pombinha, Henrique, Leonie, Florinda, entre outros.
Azevedo peca quando trata-se do psicológico de seus personagens é que bastante pobre, fato que pode ser desculpado, levando-se em consideração que no Naturalismo, existe uma predileção por esteriótipos. Ele narra o coletivo (o cortiço propriamente dito), mostrando de forma explicita a animalização do ser humano (em um processo chamado de zoormorfismo), onde eles são movidos pelo instinto e o desejo sexual.
O livro é bastante denso, e chega a ser uma leitura bem pesada em certos pontos (visto a presença de tudo já supracitado, e também a presença do homossexualismo e a presença da representação das mais diversas taras sexuais). Eu achei uma obra muito interessante, um verdadeiro ícone de sua escola literária. Por isso, recomendo com toda a certeza! ;]
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