03/07/2014

Livro: Noite na Taverna

Título: Noite na Taverna
Autor: Álvares de Azevedo
Editora: Avenida Gráfica
Ano da Primeira Publicação: 1855
Número de Páginas: 112
Minha avaliação: ♥ ♥ ♥ ♥ ♥
"Nessa torrente negra que se chama a vida e que corre para o passado enquanto nós caminhamos para o futuro, também desfolhei crenças e me lancei, despidas as minhas roupas mais perfumadas, para trajar a túnica Saturnal! O passado é o que foi, flor que murchou, sol que se apagou, cadáver que apodreceu. Lágrimas por ele? Fora loucura!"
Noite na Taverna foi escrita pelo brasileiro Álvares de Azevedo e publicada postumamente em 1855. Um clássico do ultrarromantismo brasileiro, a obra apresenta amores trágicos, morbidez, incesto, necrofilia e canibalismo (por isso a tag 18 anos), sendo uma representante da escola Byroniana do Romantismo no Brasil. 

O livro é dividido em 7 capítulos, intitulados: Uma Noite no Século, Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermman, Johann e Último Beijo de Amor. O primeiro capítulo introduz os personagens, que bebem em devassidão e contam suas histórias macabras numa taverna. Johann, Bertram, Archibald, Solfieri, Arnold e outros companheiros estão na taverna, dialogando sobre loucuras noturnas, enquanto as mulheres dormem ébrias sobre as mesas. Falam das noites passadas em embriaguez e pura orgia. Divagam sobre temas que envolvem amor, morte e bebida. 

No segundo capítulo, Solfieri conta-lhes sua história: certa noite em Roma, quando passava por uma ponte, as luzes se apagaram e ele visualiza um vulto de uma mulher; a segue até o cemitério quando esta desaparece. Lá ele acorda no dia seguinte e não mais vê a mulher durante um ano, sendo atormentado pela lembrança da bela mulher e não se satisfazendo com outras. Passado o tempo, numa noite após intensa orgia, sai vagando pelas ruas e diz que a vê novamente num templo dentro de um caixão. Arranca a mortalha do cadáver e com ela faz sexo. Solfieri conta que na verdade a moça não estava morta, e sim sofrera um ataque de catalepsia, e a leva para sua casa. Dois dias depois a moça realmente morre, e em vez de enterrá-la, pede a um escultor que faça uma estátua da mulher e em seguida "enterra" a jovem sob o piso do seu quarto. 

Em seguida é a vez de Bertram, um ruivo dinamarquês que narra sua história, contando que já havia duelado com 3 amigos por uma mulher, chamada Angela. Quando decide se casar com ela, recebe uma carta do pai pedindo que retorne à Dinamarca. Lá ele chora, mas não pela morte do pai, e sim por saudade da amada. Quando volta, encontra a mulher casada e mãe de um filho. Os dois se tornam amantes até que o marido dela descobre tudo. Angela então mata o marido e o filho, e foge com Bertram, abandonando-lhe depois entregue às paixões e vícios. A história de Bertram não acaba por aí; ao tentar se matar no mar da Itália, é resgatado por marinheiros e acaba por ingressar no navio. Lá se apaixona pela pálida mulher do comandante, que o trai com Bertram numa noite em que o navio é atacado por piratas. O navio encalha e os três náufragos, Bertram, a mulher e o comandante, sobrevivem numa jangada comendo bolachas vagando a ermo pelo mar, até que tiram a sorte para ver quem morrerá primeiro e servirá de alimento aos outros. O comandante é o primeiro, mas depois de um tempo, Bertram sufoca a mulher num momento de loucura e luxúria de ambos. Ele então é resgatado por um navio inglês e ela é levada pelas águas.  

Ainda temos as histórias de Gennaro e a Traição das Traições, Claudius Hermann e a Paixão de Morte e Johann e o Incesto, onde este conta a história de como duelou com o amigo Artur depois de perder num jogo de bilhar, e quando o amigo morre, lhe pede para entregar um anel e um bilhete, onde tem um endereço para um encontro, apenas. Johann decide ir no lugar de Artur, e acaba transando com a namorada virgem do amigo, num quarto escuro. Ao sair, encontra um vulto na porta cuja voz lhe é familiar. Não enxergando ainda, Johann luta com o desconhecido e o mata. Ao levar o corpo para a rua, identifica o próprio irmão; louco, retorna ao quarto e descobre que dormiu com a própria irmã mais nova. Ao narrar sua história, Johann pára várias vezes para encher o copo, tremendo.

Vou deixar de contar spoilers agora e se quiser saber o que se passa no último capítulo, leia o livro. O final é trágico e surpreendente, só o que posso dizer. Na última narrativa, a presença física (na roda dos moços) de personagens mencionadas em uma narrativa anterior faz com que todo o ambiente fantástico e irreal dos contos se legitime como verídico. Gostei muito da forma como Álvaro escreveu seu romance, já que me declarei fã de histórias de terror, não poderia ser outra coisa senão um dos meus livros favoritos. O livro não passa pelo sobrenatural, é disso que mais gostei, mas sim pelo extravagante e pelas tragédias do amor e da morte, além de ser um clássico da literatura nacional. Nem sempre uma boa história de suspense precisa ter envolvimento com seres sobrenaturais. O próprio homem real pode ser mais macabro que muito fantasma por aí. Recomendo! Boa leitura! 


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