Autor: Fernando Sabino
Editora: Ática
Ano de Publicação: 1994
Número de Páginas: 86
Minha avaliação: ♥ ♥ ♥ ♥
"Ficou a remexer na cozinha, assim mesmo, nu. (...) Mal tocou o embrulho do pão, ouviu atrás de si a porta, impulsionada pelo vento, fechar-se com uma pequena pancada."
♪ Aaaaaleluiaa, aaaaleluiaa... 300 anos depois finalmente eu posto um livro aqui! Vou falar hoje de um livro que já li há algum tempo (então nem se alegre muito, ainda estou sem livros recentemente lidos) e que me proporcionou algumas risadas. Você já ficou nu fora de casa ou da casa de um amigo alguma vez? Se não, com certeza conhece alguém ou até você mesmo teve que esperar muito tempo do lado de fora para que pudesse entrar em algum lugar. Sem dúvida, esperar sempre é uma experiência muito estressante. Agora, imagine que, nessa mesma situação, você estivesse sem roupa nenhuma. Pois é, aí fica difícil, não?
Foi o que aconteceu com o professor Telmo Proença, no livro A Nudez da Verdade, de Fernando Sabino. Ele é casado, especialista em folclore e tinha uma viagem marcada à São Paulo só que, de uma hora pra outra, se vê impossibilitado de embarcar. Seu voo havia sido cancelado. Então ele encontra um de seus alunos com uma turma de amigos que o convida para curtir a noite. Junto com o grupo estava Marialva, uma bela mulata com quem Telmo acaba traindo sua esposa.
Como diria a página "Ajuda Luciano", ele traiu sua esposa, até aí tudo bem rsrs. A pior parte (algo como um castigo divino) é que na manhã seguinte após ter passado a noite com Marialva, em uma tentativa frustrada de pegar o embrulho do pão na porta do apartamento dela, ele acaba trancado pelo lado de fora. Aí você pensa "ué, só isso? É só ir embora"... Hehe, o problema é que ele estava nu.
A partir daí, o autor relata com muito humor, ação e uma dose de ironia as aventuras do homem nu pelo Rio de Janeiro: sem conseguir se explicar, fugindo da polícia que quer prendê-lo e dos cidadãos enfurecidos e perplexos com o atentado gravíssimo ao pudor.
Fernando Sabino, grande nome da literatura nacional falecido em 2004, cumpre o seu objetivo em A Nudez da Verdade: divertir e entreter o leitor, rendendo boas risadas em uma alegre narrativa. Pequeno e bem construído, o livro não permite que você o pause. A cada novo parágrafo, surge uma novidade ainda mais engraçada, o que faz você terminar o livro logo. Não é a primeira história de Sabino que fala de pessoas nuas na rua em situações constrangedoras e engraçadas. Em 1960 ele publicou um conto chamado O Homem Nu que também conta a história de um homem que, não querendo pagar a prestação da TV, pede a esposa para não abrir a porta para ninguém. Ao sair de casa completamente nu para pegar o pão, acaba preso do lado de fora, e como nosso amigo Telmo, passa por muitos apertos. Quando consegue voltar para casa e se vestir, a campainha toca. Achando que era a polícia, ele abre. Era o cobrador da televisão.
Em ambas as histórias, percebemos que quando você pensa ou faz algo de errado, as consequências podem ser complicadas. Com Telmo, que traiu a esposa, acabou sendo perseguido pelas ruas por estar nu. Em O Homem Nu, o personagem não queria pagar a conta, e também acabou nu perseguido pelas ruas. Como se fosse um castigo. Outro ponto importante, durante a narrativa, é que podemos perceber a clara facilidade com que julgamos as pessoas e quão absurdamente associamos seu valor moral com as suas vestes. Telmo é anunciado como um "maníaco tarado", "sujeito possivelmente drogado" e "perigoso", sem ao menos ter uma chance de se explicar. O livro não é de aplicar lições de moral, mas singelamente conseguimos tirar um pouquinho de humanidade, junto com muitas risadas. Recomendo, boa leitura!
"...debaixo das roupas estamos todos nus. Inclusive eu e você."
Boa resenha, só pelo titulo já me prendeu.
ResponderExcluirhttp://criativare-leitura.blogspot.com.br/