Título: Eu Sou a Lenda
Autor: Richard Matheson
Editora: Aleph
Ano de Publicação: 2015
Número de Páginas: 382
Minha Avaliação: ♥ ♥ ♥ ♥
"Aqueles olhos, Neville pensou. Que mundo de sentimentos naqueles olhos! Desconfiança, medo, esperança, solidão: tudo gravado naqueles grandes olhos castanhos. Coitadinho."
Esqueçam o filme com o Will Smith. Esqueçam ele. Apaguem-no da sua memória. Este é o conselho que lhes dou antes de começar a ler Eu Sou A Lenda, de Richard Matheson. O livro foi publicado pela primeira vez em 1954 e até hoje faz sucesso. Mas o filme de 2007 só usou o livro como inspiração, não foi bem uma adaptação. A coisa toda aconteceu bem diferente...
Em comum entre o filme de 2007 e o livro, somente o pano de fundo: um homem solitário num mundo pós-apocalíptico onde as pessoas adoeceram e viraram uma espécie de vampiro. Ele tenta sobreviver e encontrar uma cura para a bactéria que transformou todo mundo (ou quase) em monstros. Porém, a forma como a história de Robert Neville é contada é bem diferente. Eu Sou A Lenda é um livro sobre solidão, sobre a história de um homem que tenta sobreviver sozinho num mundo que não pertence mais a ele e de como isso causa uma confusão mental no nosso protagonista; a perda do amor e de companhia são os problemas centrais do livro.
Eu Sou A Lenda é dividido em quatro partes: Janeiro de 1976, Março de 1976, Junho de 1978 e Janeiro de 1979. O apocalipse acontece a mais de 20 anos de quando o livro foi publicado. O interessante é que Matheson não utilizou elementos futurísticos para escrever seu livro de ficção científica, você não tem carros voadores, roupas de neon nem nada esquisito para dizer que se está no futuro, não criou vampiros que brilham ou que já existissem há séculos, que pudessem sair ao sol e entre outras características que já vimos acontecer em algumas histórias de vampiros mais modernas. Ele preferiu, ao contrário, manter alguns detalhes mais clássicos. Mas vamos voltar à história.
O ano é 1976. Robert Neville é o único (até onde ele sabe) sobrevivente de uma doença que fez todos, até os animais, virarem vampiros, menos ele. A pandemia tirou a vida até de sua esposa e filha, mas ele é imune à bactéria. Desprovido de companhia humana, seus únicos companheiros são os malditos vampiros que aparecem à noite na porta da sua casa esperando que ele desista e saia para servi-lhes o seu sangue. Ele pode ouvir seu antigo vizinho e amigo, Ben Cortman, o chamando para sair, pode ver pelo olho-mágico as vampiras se oferecendo lascivamente para ele, o provocando. Robert mal pode conter seu desejo, afinal já está há muito tempo sem mulher, e as vampiras só pioram a situação. Seu passatempo está nos seus discos de vinil de música clássica, no uísque e nas suas lembranças, onde podemos visualizar como era sua vida anterior, com sua esposa Virgínia, e como o mundo começou a ficar perigoso.
Durante o dia, seu trabalho consiste em fazer reparos na casa onde vive, trocar os colares de dentes de alho em volta da casa - isso afasta os vampiros e ele não sabe o porquê - procurar comida na cidade abandonada, caçar vampiros enquanto dormem para matá-los com uma estaca no coração e tentar sobreviver aos pensamentos depressivos que o atormentam, de uma vida cheia de traumas e de solidão, que já o fizeram pensar em suicídio muitas vezes. O que o faz desistir de se matar é a esperança de um dia encontrar pessoas imunes como ele e, quem sabe também, um dia encontrar uma cura para o vampirismo. É aí que ele começar a estudar biologia e fazer testes no sangue dos vampiros e outros experimentos, para descobrir por que o alho os afeta, por que o sol os incomoda, por que a estaca no coração os mata, por que cruzes e espelhos os afastam e todos os outros porquês.
Gostei muito da forma como Richard Matheson descreve a vida solitária de Robert Neville. Nos faz pensar em como seria conosco, caso algo parecido acontece. Já imaginou, ficar sozinho num mundo rodeado de monstros sedentos pelo seu sangue, e você não ter ao menos um ser vivo para te ouvir? O terror da história está todo nisso, em pensar em como seria a vida numa situação como essa. Provavelmente eu seria mais uma vampira, do jeito que minha sorte é grande rs.
O momento em que Robert encontra um cachorro zanzando pelas ruas o deixa tão eufórico que ele tenta a todo custo fazer amizade com o animal arredio. É bem tocante essa passagem, mostra bastante a necessidade que Neville tem de companhia. Eu Sou A Lenda é o produto de um homem problemático durante um período conturbado. E eu gostei muito! A editora Aleph ainda acrescentou um prefácio de Stephen King, que diz que sem Richard Matheson ele não seria um escritor de livros de terror. É bem legal ver o Mr. King contando como Eu Sou A Lenda foi uma inspiração para ele. No final da obra encontram-se também uma crítica de Mathias Clasen e uma entrevista com o autor em 2007, onde ele fala sobre os filmes baseados em sua obra e de onde veio a ideia para o enredo do livro. Recomendo e boa leitura!
Ddjsssjsksnsbdjfxjxhjx
ResponderExcluir