Livro: O Chamado de Cthulhu e Outros Contos

Título: O Chamado de Cthulhu e Outros Contos (ebook)

Autor: H. P. Lovecraft

Editora: Hedra

Número de Páginas: 166 páginas

Ano: 2010

Minha Avaliação: ♥ ♥ ♥ ♥ ♥

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"A emoção mais antiga e mais forte do homem é o medo, e o medo mais antigo e mais forte é o medo do desconhecido" - Howard Phillips Lovecraft.

Hoje é nosso último dia de #OutubroDasTrevas - e obviamente é Halloween - e confesso que este ano a coisa foi meio fraquinha por aqui e pelo canal. Problemas, muitos problemas... Mas deu pelo menos para trazer esta última resenha do mês para vocês, de um livro de contos de terror bem famosos, escritos por ninguém mais, ninguém menos que H. P. Lovecraft. Tive meu primeiro contato com o escritor através de indicações de amigos. Nunca tinha sequer ouvido falar dele há mais ou menos uns dois anos. Aí, somente agora, resolvi ler seus contos. E não sei que diabos eu estava fazendo que demorei tanto!

Esta edição (a qual li em formato ebook) é da editora Hedra, em formato de bolso, e os contos foram traduzidos - bem como uma introdução sobre a obra e vida do autor - por Guilherme da Silva Braga. Aqui estão presentes sete contos de Lovecraft, incluindo o que dá título à obra: Dagon, Ar Frio, O que a lua traz consigo, A música de Erich Zann, O modelo de Pickman, O Assombro das Trevas e O Chamado de Cthulhu (não me pergunte como se pronuncia esse nome, não faço ideia). No final, ainda encontram-se uma carta de H.P. Lovecraft para seu amigo R. Michael, na qual fala sobre sua personalidade e sua vida, e um artigo em que discute o método que empregava na criação de seus contos.

"O corpo enrijecido estava sentado junto à escrivaninha, em frente à janela, e quando os invasores viram os olho fixos, vidrados, e as marcas de horripilante e convulsivo pavor naquela fisionomia contorcida, desviaram o olhar em uma consternação nauseante."

A escrita lovecraftiana é bem angustiante e cheia de tensão. Seus contos são em sua grande maioria de um terror cósmico - desenvolvido por ele mesmo -, e passam um certo desconforto, a angústia começa puxando para o desconhecido para ir aumentando e aumentando, concluindo subitamente - parece uma sinfonia de Beethoven. Também achei sua escrita bastante visual, você meio que consegue visualizar o que ele está dizendo, até o cheiro fétido de muitas das criaturas e lugares descritos é quase possível de sentir. Em Dagon, por exemplo, eu não consegui olhar para a janela do meu quarto a noite toda, ao terminá-lo. Sua escrita é também bastante rebuscada e muitas vezes tive de consultar algumas palavras que nunca tinha ouvido falar no dicionário do kindle (e-reader é vida ♥ mas ainda prefiro o livro físico).

"Uma cabeça polpuda, com tentáculos, colmava um corpo grotesco e escamoso, com asas rudimentares; mas era a silhueta da figura o que a tornava ainda mais horrenda. Atrás da figura aparecia a vaga sugestão de um cenário arquitetônico ciclópico."

 

Não são exatamente contos de sustos, muito se engana quem confunde terror com suspense. O sobrenatural aqui também não algo que dá as caras o tempo todo, o terror fica mesmo por conta do drama de não se saber com o que se está lidando. Meus contos preferidos foram Dagon, O Modelo de Pickman - ambos me deixaram com receio de dormir -, O Assombro das Trevas e O Chamado de Cthulhu (inclusive Assombro é citado no começo deste e achei ótimo a editora colocar nessa ordem). Ar Frio também foi bastante interessante, eu jamais imaginaria o final que ele teve. Quanto ao monstrengo mais popular do escritor, finalmente entendi o porquê dessa popularidade; não é que o monstro te assuste (como falei, o susto é raro aqui), mas a riqueza de detalhes - os cultos aos Anciões, ao ser mítico e caótico, o fato das pessoas que sabem demais morrerem "do nada", a loucura que acometem os poetas e artistas durante a suposta ascensão de Cthulhu, o "horror que veio do barro", são de roer as unhas.

"A repulsa aguarda e sonha nas profundezas, e a decadência espalha-se pelas frágeis cidades dos homens."

Já em O Modelo de Pickman, as ilustrações bizarras do pintor são de arrepiar. Você consegue visualizar, sem figura alguma no livro, os seres demoníacos saídos de qualquer buraco das trevas, que Pickman desenhava - ai a pessoa tem um belo de um buraco na parede do lado da cama, tem como dormir? Não tem, gente! O final me surpreendeu, principalmente porque a gente acaba por compartilhar dos sentimentos do protagonista.

"Mas um dia a compreensão ampla de todo esse conhecimento dissociado revelará terríveis panoramas da realidade e do pavoroso lugar que nela ocupamos, de modo que ou enlouqueceremos com a revelação ou então fugiremos dessa luz fatal em direção à paz e ao sossego de uma nova idade das trevas."

O Assombro das Trevas me pareceu ser maior que O Chamado de Cthulhu, por sua tamanha complexidade. O conto é sobre um historiador que se sente atraído por uma construção sacra abandonada que ele observa da janela de seu quarto. Um dia ele decide explorar o local e lá ele encontra algo terrível e assustador. E aí passa a ficar cada dia mais obcecado pelo lugar ao ponto de enlouquecer; enquanto isso, sua visita parece ter despertado tudo que havia de ruim armazenado naquele lugar. Angústia total aqui!

"(...)Tudo que é anormal suscita aversão, desconfiança e medo."

Enfim, esta edição da Hedra foi muito prazerosa de se ler. Pequena, é ótima para quem deseja apenas iniciar os caminhos nos trabalhos do escritor, assim como foi comigo. Em breve pretendo ler mais coisas dele. O Chamado de Cthulhu e Outros Contos é uma ótima coletânea e gostei muito das histórias tensas e angustiantes, repletas de terrores ancestrais e indizíveis. Pena que o escritor só teve seu trabalho reconhecido depois de morto. Mas pelo menos ele serviu bastante para influenciar o terror tanto em escritores futuros quando em outras artes, como cinema e até mesmos jogos, do gênero. Boa leitura!

 

"Ph'nglui mglw'nafh Cthulhu R'lyeh wgah'nagl fhtagn - Na casa em Rl'yeh, Cthulhu, morto, aguarda sonhando."