Autor: Rachel de Queiroz
Editora: Siciliano
Ano: 1930
Número de Páginas: 152
“Lá se tinha ficado o Josias, na sua cova à beira da estrada, com uma cruz de dois paus amarrados, feita pelo pai. Ficou em paz. Não tinha mais que chorar de fome, estrada afora. Não tinha mais alguns anos de miséria à frente da vida, para cair depois no mesmo buraco, à sombra da mesma cruz.”
Esta obra da célebre escritora
brasileira Rachel de Queiroz trata da grande seca nordestina de 1915, com um
maior cenário no estado do Ceará. A história é dividida em dois planos
principais: um enfocando o vaqueiro Chico Bento e sua família, o outro a
relação afetiva de Vicente, rude proprietário e criador de gado, e Conceição,
sua prima culta e professora.
Conceição é apresentada como uma moça que gosta de ler vários livros, inclusive de tendências feministas e socialistas, o que estranha a sua avó, Mãe Nácia – que seguia as velhas tradições. Conceição passava o período de férias na fazenda da família, no Logradouro, perto de Quixadá. Apesar de ter 22 anos, dizia não pensar em casar, mas sempre se "engraçava" com seu primo Vicente. Ele era o proprietário que cuidava do gado, era rude e até mesmo selvagem. Com a seca, a família de Mãe Nácia decide ir para cidade e deixar Vicente cuidando de tudo, resistindo. Trabalhava incessantemente para manter os animais vivos. Conceição trabalhava agora no campo de concentração onde ficavam alojados os retirantes, e descobre que seu primo estava "de caso" com "uma caboclinha qualquer". Vicente se encontra com Conceição e sem perceber confessa seus medos e problemas devido a seca a ela. Ela começa a tratá-lo de modo indiferente. Vicente se ressente disso e não consegue entender a razão.
Enquanto isso, sem dúvida a parte
mais importante do livro, o segundo plano apresenta a marcha trágica e penosa
do vaqueiro Chico Bento com sua mulher e seus 5 filhos, representando os
retirantes. Ele é forçado a abandonar a fazenda onde trabalhava. Conseguiu
juntar algum dinheiro, compra mantimentos e uma burra para atravessar o sertão.
Tinham o intuito de trabalhar no Norte, extraindo borracha, coisa nova e que
dava a ilusão de riquezas. No percurso, em momento de extrema fome, Josias, o
filho mais novo, come mandioca crua, envenenando-se. Agonizou até a morte. Seu
corpinho é enterrado no meio da estrada.
Uma cena marcante na vida do
vaqueiro foi a de matar uma cabra e depois descobrir que tinha dono. Este o
chamou de ladrão, e levou o resto da cabra para sua casa, dando-lhes apenas as
tripas para saciarem sua fome. Ao chegarem ao campo de concentração, são
reconhecidos por Conceição, sua comadre. Ela arranja um emprego para Chico
Bento e passa a viver com um de seus filhos. Conseguem também uma passagem de
trem e viajam para São Paulo, desistindo de trabalhar com a borracha.
Li em minha plena adolescência,
em épocas de Crepúsculos e outras idiotices historinhas. Não me
arrependo da leitura. Lembro-me que minha mãe me indicou como um livro de
romance, e eu com minha falta de cultura, achei que era um livro romântico.
Depois de lido reclamei que não tinha nada de historinhas de amor, mas mesmo
assim, foi um dos melhores livros que já li. Uma história forte, marcante,
baseada em fatos reais, já que a grande seca existiu, abalando a maior região
do país, obrigando os seus descendentes a partirem em busca de uma vida melhor, alguns
sem sucesso. Fome, miséria, morte. Adorei e recomendo. Boa leitura!
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