27/01/2016

Livro: As Seis Lições

Título: As Seis Lições
Original: Economic Policy: Thoughts for today and tomorrow
Autor: Ludwig von Mises
Editora: Instituto Ludwig von Mises Brasil
Ano de Publicação: 1979
Número de Páginas: 108
Minha Avaliação: ♥ ♥ ♥ ♥

"Alguns anos atrás, um famoso autor escreveu: 'No final das contas, estaremos todos mortos'. Lamento confirmar que é a pura verdade. Mas a questão é quanto durará o momento presente? (...) Para muitos, o 'final das contas' logo se converte no presente - e quanto mais a inflação avança, mais se antecipa o 'final das contas'."

O post de hoje é uma novidade no Amados Livros. É sobre um livro cujo tema trata de questões políticas e econômicas. Acho que não escrevemos sobre algo do tipo aqui antes. O livro chama-se As Seis Lições (em inglês: Economic Policy: Thoughts for today and tomorrow), de autoria do economista austríaco Ludwig von Mises, nascido em 29 de setembro de 1881, um dos principais nomes da Escola Austríaca de Economia. Em 1958, logo após a queda de Perón, von Mises esteve na Argentina e proferiu uma série de palestras sobre seis tópicos da economia mundial: capitalismo, socialismo, intervencionismo, inflação, investimento externo e política e ideias. Em 1979, sua esposa, Margit von Mises resolveu publicar essas conferências na forma de um livro, onde os seis capítulos correspondem às seis lições passadas por von Mises na Argentina. 

Segundo Margit, sua intenção era que essas conferências fossem lidas não só por especialistas na área, mas também pelos muitos admiradores de seu marido que não são economistas, e que esse livro se tornasse acessível a um público mais jovem, principalmente aos estudantes universitários. Prepare-se que a resenha de hoje será um pouquinho grande. Mas é necessário para explicar o que Mises quis passar em sua fala.

A primeira lição, o Capitalismo, trata sobre a origem deste sistema, que segundo ele veio em substituição ao feudalismo, como uma forma de atender as necessidades de uma população - principalmente a rural que migrava para as cidades europeias - que cada vez mais se expandia e aumentava as suas necessidades. Foi o começo da "produção em massa para satisfazer às necessidades da massa", princípio básico da indústria capitalista. Von Mises explica que o fundamental do capitalismo está na prioridade dos consumidores, como se estes fossem os verdadeiros patrões,  e na concorrência entre os fornecedores de um produto ou de bens rivais. No fim, os consumidores são também os próprios empregados das empresas, e são eles mesmos quem definem - e não os empregadores - o quanto irão receber a partir do quanto poderão comprar.

Na segunda lição, Socialismo, von Mises mostra que a visão socialista de liberdade econômica está completamente equivocada. Segundo a tese de Karl Marx, o capitalismo é um sistema dedicado a deixar o rico cada vez mais rico e os pobres cada vez mais pobres, aumentando a diferença de classes. Para os socialistas, chegaria um momento em que poucos homens ou até um só homem teria todo o capital de um país. Essa premissa já foi refutada, basta notar o quão versátil é a lista de homens mais ricos do mundo, assim como o mercado é dinâmico, se for livre. Um exemplo atual que podemos observar de como sempre surgem bilionários ao mesmo tempo que muitos saem dessa lista, está no empresário brasileiro Eike Batista, que recentemente perdeu sua fortuna. Ou seja, o capital não é algo preso a uma só pessoa ou a um grupo de pessoas. É algo que deve viver sempre em circulação. Mises acredita que só o capitalismo dá a oportunidade de sair de uma classe para outra superior (ou inferior), diferente do feudalismo ou do socialismo/comunismo. No capitalismo o consumidor é quem manda. Mises lembra que é comum reparar em lojas as seguintes frases: "volte sempre", "obrigado pela preferência". Porém nos países socialista diriam algo como: "agradeça ao planejador central". Notem quem é a "divindade" em cada um dos sistemas. No socialismo existe a tentativa de limitar o poder do consumidor e colocá-lo nas mãos de planejadores sociais, ou seja, nas mãos do governo de estados.

"O homem livre planeja diariamente, segundo suas necessidades (...). Pode ser que ele esteja enganado, pode ser que essa ida para Buenos Aires seja um erro. Talvez as condições tivessem sido mais propícias em Córdoba, mas ele foi autor dos próprios planos. Submetido ao planejamento governamental, o homem é como um soldado num exército. Não cabe a um soldado o direito de escolher sua guarnição, a praça onde servirá. Cabe-lhe cumprir ordens."

O terceiro capítulo é sobre o Intervencionismo. Seria uma economia com características dos dois sistemas. Alguns dizem que esta seria a solução. O intervencionismo é tão prejudicial quanto o socialismo, pois ele beneficia determinados setores e pune a meritocracia. Ele usou como exemplo de intervencionismo o controle dos preços, quando se estabelece mínimos e máximos. Mises mostra como uma intervenção leva a uma série de intervenções, o que pode levar ao planejamento central nas mãos do governo, ou seja, ao socialismo. 

Normalmente o intervencionismo é um dos fatores que induz ao surgimento da Inflação, assunto da quarta lição. Você sabe o que é a inflação? Provavelmente acredita que seja "aumento dos preços de serviços e produtos". Na verdade, isso é uma consequência da inflação. Mises explica que a inflação é um aumento na quantidade de dinheiro na economia. Parece estranho, mas observe: se a solução  para a pobreza fosse a impressão de mais dinheiro, todo mundo seria rico né? Errado. Na verdade, esse dinheiro perderia o valor. É isso que leva à inflação. Basta lembrar da lei da oferta e da procura: quando se tem muito de um produto, ele é menos valioso, porque ele tem em abundância. Assim acontece também com o dinheiro. Quando se tem muita moeda no mercado os preços aumentam, pois os consumidores tem maior poder de compra e podem consumir mais, o que necessita de mais produtos e serviços. Inflação é o aumento na oferta monetária.

"Se a oferta de caviar fosse tão abundante quanto a de batatas, o preço do caviar - isto é, a relação de troca entre caviar e dinheiro, ou entre caviar e outras mercadorias - se alteraria consideravelmente. Nesse caso, seria possível adquiri-lo a um preço muito menor que o exigido hoje.  Da mesma maneira, se a quantidade de dinheiro aumenta, o poder de compra da unidade monetária diminui, e a quantidade de bens que pode ser adquirida com uma unidade desse dinheiro também se reduz."

Mises mostra na quinta lição, Investimento Externo, como é necessário investimentos em capital para desenvolver o país; caso este país não tenha os recursos necessários, ele pode importar esses capitais do exterior, na forma de empréstimos (que deverão ser devolvidos no futuro) ou de participação nas empresas (ou seja, na exportação de ações). Mises mostra como isso funcionou em diversos exemplos, um deles quando a Alemanha alcançou o desenvolvimento da Inglaterra, ao receber capital externo britânico. Porém, o problema é que os governos tendem a ser contra o investimento externo.

É aí que ele mostra, na sexta lição - Políticas e Ideias - que as democracias caminhavam para a influência de grupos de pressão sobre o poder político. Ele observou que os partidos políticos são atualmente esses grupos de pressão, tentando obter ganhos para eles mesmos à custa de outras pessoas. Ele citou, por exemplo, como começou a ruína do Império Romano, na queda da economia quando ideias intervencionistas, socialistas e inflacionárias passaram a tomar conta. Para Mises, a solução é que devemos substituir as ideias ruins - antigas e já refutadas - pelas boas - que são resistidas pelos grupos de pressão.

Esse livro me foi indicado por meu amigo Gabriel Costa (vulgo GB). É bem curto e mesmo que transmita um tema menos literário e mais político, não chega a ser massante. A linguagem de Mises, já que foi voltada para jovens estudantes argentinos, é bem acessível e clara. É bem interessante para quem deseja conhecer mais sobre a inflação (principalmente entender do que se trata de verdade) e o liberalismo. Passei a enxergar o capitalismo de outra forma - não que fosse contra, mas é bem verdade que não dava muita importância ao assunto justamente por não entender muito. Caso se interesse pelo assunto, essa e outras obras de Ludwig von Mises, ou até mesmo de outros autores, podem ser encontradas gratuitamente no site do Instituto Ludwig von Mises Brasil. Boa leitura! 


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