Série: Fundamentos
Autor: Ricardo Kotscho
Editora: Ática
Ano: 2000
Número de Páginas: 80
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Minha Avaliação: ♥ ♥ ♥ ♥
"Não basta, porém, saber - ou pensar que sabe - escrever. Ser repórter é bem mais do que simplesmente cultivar belas-letras, se o profissional entender que sua tarefa não se limita a produzir notícias segundo alguma fórmula 'científica', mas é a arte de informar para transformar."
O livro A Prática da Reportagem,
escrito pelo jornalista Ricardo Kotscho, aborda como desenvolver uma reportagem
de muitas formas, variando apenas o olhar e a sensibilidade de quem escreve.
Com uma linguagem clara e de fácil entendimento, o leitor encontra na narrativa
de Kotscho uma visão mais ampla de como ser um repórter, baseado nas próprias
experiências do autor.
Kotscho descrever os desafios
enfrentados por um repórter, desde encontrar uma boa pauta, a investigação, a
escrita da reportagem, até as consequências de sua publicação. O livro
possui 08 capítulos que relatam como o profissional deve se dedicar a
transmitir as informações colhidas ao receptor de maneira que este consiga
compreender a realidade que o cerca e forma sua própria opinião. Ele explica em
cada um como é o dia-a-dia do repórter, que muitas vezes precisa encontrar uma
pauta, mesmo que pareça não haver nenhuma; como são feitas as coberturas de
assuntos de interesse geral, a dificuldade de criar uma reportagem
investigativa, como elaborar um perfil e fazer levantamentos, além do drama
social e da criação de grandes reportagens.
Kotscho afirma que procurou
responder em seu livro às perguntas que os estudantes e profissionais do
jornalismo costumam fazer-lhe. Para tal, o autor utilizou de um recurso que ele
considera mais fácil tanto de explicar quanto de entender (e o realmente é): a
prática da reportagem. Ele utilizou exemplos concretos de matérias que o mesmo
produziu ao longo de sua carreira, em vez de focar em teorias. Os trechos das
reportagens do autor utilizados como modelos são por vezes antigos –
principalmente da época da ditadura militar do Brasil, em que a permeava a
censura a tudo que os repórteres desejavam publicar – porém, tratam-se de
termas ainda atuais, como casos de enchentes, de corrupção, fome, miséria,
roubos etc.
"Mas o Brasil daquele tempo – e
tenho minhas dúvidas se ainda hoje não é assim – não estava habituado, depois
de tantos anos de censura, a enfrentar a realidade. Por isso, acho que a
matéria teve muito mais repercussão pelo inusitado (...), do que pelas
denúncias em si", diz Kotscho na página 54, sobre um levantamento que fez
acerca das mordomias de políticos e superfuncionários durante o governo de
Ernesto Geisel; o autor, inclusive, afirma que foi a primeira vez que essa
palavra – mordomia – foi utilizada em uma reportagem sobre o tema em questão. O
que hoje para nós é super comum, relata, naquela época aquele tipo de denúncia
era extraordinário.
"O maior patrimônio de um repórter é a credibilidade – as pessoas precisam confiar em você para contar histórias que consideram delicadas porque mexem com a vida de outras pessoas." p. 23
Outro momento interessante da
leitura é quando o autor ressalta que repórter e fotógrafo devem trabalhar
sempre juntos. Para ele, o repórter jamais deve se esquecer que texto e imagem
têm a mesma importância numa matéria, e por isso ele deve sim se preocupar com
o trabalho do fotógrafo. Kotscho também relembra que tristeza e alegria
acompanham os trabalhos de cobertura, e não há (e nem deve haver) como o
repórter ficar insensível a certos fatos, pois "informação e emoção são duas
ferramentas básicas do repórter", devendo saber medi-las e como aplica-las em
suas matérias.
A responsabilidade social marcou
muitas das reportagens citadas no livro, como é o caso do exemplo em “a fome
tem nome”, no capítulo sobre Drama Social, uma matéria linda sobre uma família
da favela que literalmente não tinha o que comer. Depois de publicada, parecia
que finalmente a sociedade havia percebido que tinha gente passando fome na
cidade, tanto que a família recebeu doações e ofertas de emprego. Não é função
do jornalista acabar com todos os problemas do mundo, mas quando se pode ajudar
a mudar o mundo de alguém com seu trabalho, é gratificante, relata o autor.
A leitura do livro é bem fluída e
nem um pouco cansativa. Considero deveras importante para estudantes de
jornalismo e iniciantes no ramo, recheado de informações interessantes; um
livro base para quem não tem a prática da reportagem.
"Enquanto houver repórteres dispostos a levar seu ofício até as últimas consequências, a reportagem sobreviverá - grande ou pequena, não importa. O importante é continuar contando o que acontece por aí."
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