16/10/2018

Livro: A Prática da Reportagem

Título: A Prática da Reportagem
Série: Fundamentos
Autor: Ricardo Kotscho
Editora: Ática
Ano: 2000
Número de Páginas: 80
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Minha Avaliação: ♥ ♥ ♥ ♥

"Não basta, porém, saber - ou pensar que sabe - escrever. Ser repórter é bem mais do que simplesmente cultivar belas-letras, se o profissional entender que sua tarefa não se limita a produzir notícias segundo alguma fórmula 'científica', mas é a arte de informar para transformar."

O livro A Prática da Reportagem, escrito pelo jornalista Ricardo Kotscho, aborda como desenvolver uma reportagem de muitas formas, variando apenas o olhar e a sensibilidade de quem escreve. Com uma linguagem clara e de fácil entendimento, o leitor encontra na narrativa de Kotscho uma visão mais ampla de como ser um repórter, baseado nas próprias experiências do autor.

Kotscho descrever os desafios enfrentados por um repórter, desde encontrar uma boa pauta, a investigação, a escrita da reportagem, até as consequências de sua publicação. O livro possui 08 capítulos que relatam como o profissional deve se dedicar a transmitir as informações colhidas ao receptor de maneira que este consiga compreender a realidade que o cerca e forma sua própria opinião. Ele explica em cada um como é o dia-a-dia do repórter, que muitas vezes precisa encontrar uma pauta, mesmo que pareça não haver nenhuma; como são feitas as coberturas de assuntos de interesse geral, a dificuldade de criar uma reportagem investigativa, como elaborar um perfil e fazer levantamentos, além do drama social e da criação de grandes reportagens.

Kotscho afirma que procurou responder em seu livro às perguntas que os estudantes e profissionais do jornalismo costumam fazer-lhe. Para tal, o autor utilizou de um recurso que ele considera mais fácil tanto de explicar quanto de entender (e o realmente é): a prática da reportagem. Ele utilizou exemplos concretos de matérias que o mesmo produziu ao longo de sua carreira, em vez de focar em teorias. Os trechos das reportagens do autor utilizados como modelos são por vezes antigos – principalmente da época da ditadura militar do Brasil, em que a permeava a censura a tudo que os repórteres desejavam publicar – porém, tratam-se de termas ainda atuais, como casos de enchentes, de corrupção, fome, miséria, roubos etc.

"Mas o Brasil daquele tempo – e tenho minhas dúvidas se ainda hoje não é assim – não estava habituado, depois de tantos anos de censura, a enfrentar a realidade. Por isso, acho que a matéria teve muito mais repercussão pelo inusitado (...), do que pelas denúncias em si", diz Kotscho na página 54, sobre um levantamento que fez acerca das mordomias de políticos e superfuncionários durante o governo de Ernesto Geisel; o autor, inclusive, afirma que foi a primeira vez que essa palavra – mordomia – foi utilizada em uma reportagem sobre o tema em questão. O que hoje para nós é super comum, relata, naquela época aquele tipo de denúncia era extraordinário.

"O maior patrimônio de um repórter é a credibilidade – as pessoas precisam confiar em você para contar histórias que consideram delicadas porque mexem com a vida de outras pessoas." p. 23

Outro momento interessante da leitura é quando o autor ressalta que repórter e fotógrafo devem trabalhar sempre juntos. Para ele, o repórter jamais deve se esquecer que texto e imagem têm a mesma importância numa matéria, e por isso ele deve sim se preocupar com o trabalho do fotógrafo. Kotscho também relembra que tristeza e alegria acompanham os trabalhos de cobertura, e não há (e nem deve haver) como o repórter ficar insensível a certos fatos, pois "informação e emoção são duas ferramentas básicas do repórter", devendo saber medi-las e como aplica-las em suas matérias.

A responsabilidade social marcou muitas das reportagens citadas no livro, como é o caso do exemplo em “a fome tem nome”, no capítulo sobre Drama Social, uma matéria linda sobre uma família da favela que literalmente não tinha o que comer. Depois de publicada, parecia que finalmente a sociedade havia percebido que tinha gente passando fome na cidade, tanto que a família recebeu doações e ofertas de emprego. Não é função do jornalista acabar com todos os problemas do mundo, mas quando se pode ajudar a mudar o mundo de alguém com seu trabalho, é gratificante, relata o autor.

A leitura do livro é bem fluída e nem um pouco cansativa. Considero deveras importante para estudantes de jornalismo e iniciantes no ramo, recheado de informações interessantes; um livro base para quem não tem a prática da reportagem.

"Enquanto houver repórteres dispostos a levar seu ofício até as últimas consequências, a reportagem sobreviverá - grande ou pequena, não importa. O importante é continuar contando o que acontece por aí."



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