03/06/2011

Conto: 12/06

12/06

Não posso caminhar pelo mundo humano sem ser invocado, mas nesta data, o dia dos namorados, há uma exceção. Então eu venho e fico a vagar entre eles, olhando todos, vendo seus costumes, mas, especificamente, venho para observar uma jovem chamada Lacey.
Todo ano, nesta data, ela segue o mesmo ritual: acorda cedo, toma um banho demorado, veste o mesmo vestido preto com gola V e laços vermelhos, calça sua sapatilha vermelha, penteia seus longos cabelos negros fazendo uma única trança lateral. Toma um café rápido e saí rumo à floricultura localizada na esquina de sua casa e compra sete rosas brancas em botão, uma para cada ano.
Depois segue andando duas quadras onde pega um ônibus que a deixa no cemitério Sant. Louis. Lá ela segue até encontrar um túmulo mais ao fundo do local. Uma lápide recente para aquela parte do cemitério. Deposita as rosas junto à cova, e fica esperando calmamente.
Fico me perguntando se devo ou não aparecer, se mantenho a “tradição” com o jogo de palavras quase ensaiadas, ou se simplesmente vou embora. O que ela faria se sua rotina neste dia mudasse? Acabo por ceder e tomo forma a sua frente e como de costume faço a mesma oferta:
- O ressuscitarei, se você quiser. – Digo com ar imponente, que parece teatral demais até para mim. - O preço você já conhece: Sua alma.
Ela olha para mim e sorri, seus olhos castanhos encontram os meus e parecem querer invadir os meus pensamentos. Quase murmurando ela me diz:
- Fico feliz em te ver novamente, sinto tanto a sua falta... Sabe, eu sempre te amei e acho que sempre vou amar... Se eu pudesse, eu aceitaria a oferta. Mas as coisas não são tão simples. Você não pertence mais a este mundo é errado forçá-lo a voltar.
Ela fecha os olhos sorrindo de forma doce. Seu sorriso é dono de uma tristeza recatada. Ela olha para os lados enquanto o vento brinca com alguns fios de cabelo que conseguiram escapar da trança. Parece está perdida em um mundo muito distante.
Então, sem nenhum aviso ela começa a andar. Vai se distanciando da sepultura. Tento me mexer, mas percebo que é em vão. Meu tempo acabou. Acho que ela pensa que eu sou o humano que jaz nesta cova, como se algum dia eu realmente pudesse ter tido um lado bom. Ela não sabe o que eu faço, não me conhece, mas seu olhar me reconheceu de algum jeito. Como se ela tivesse me visto aquele dia... O dia em que tudo mudou.
Mas nada disso importa mais. Olho para o céu azul, quase sem nuvens. É hora de ir, Não há mais razão para permanecer aqui. Tudo que posso fazer é esperar mais um ano passar para poder rever a mulher que pela primeira vez em 500 anos me fez querer ser diferente...


2 comentários:

  1. rapaaaaz... demorei pra comentar, pq eu tinha q ler de novo!! mto bom mesmo mil!! quero ler o futuro livro ai viu? faz logo pra eu comprar!! kkkkkkkkk, mas sério, ficou excelente xD

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  2. Valeu Mari! kkkkk QUando eu publicar te dou um manuscrito em punho (escrito a mão) autografado! ;D~ kkkkkk

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