06/08/2014

Livro: Lucíola

Título: Lucíola
Autor: José de Alencar
Ano da primeira publicação: 1862
Editora: Ciranda Cultural
Ano da publicação desta edição: 2009
Número de Páginas: 160
Minha avaliação: ♥ ♥ ♥ ♥

"_ Quem é esta senhora? -  perguntei a Sá. A resposta foi o sorriso inexprimível, mistura de sarcasmo, de bonomia e fatuidade que desperta nos elegantes da corte a ignorância de um amigo, profano na difícil ciência das banalidades sociais. 
_ Não é uma senhora, Paulo! É uma mulher bonita. Queres conhecê- la?"

As obras do escritor brasileiro José de Alencar podem ser divididas em quatro grupos: romances indianistas (Iracema, O Guarani), romances históricos (Minas de Prata), romances urbanos (Lucíola, Diva, Senhora) e os romances regionalistas (O Gaúcho, O Tronco do Ipê). Dentre os romances urbanos, já falamos aqui de Senhora e chegou a vez de Lucíola. Uma das características mais marcantes dos romances urbanos de José de Alencar é o retrato de conflitos entre o indivíduo e a sociedade, em um Rio de Janeiro ainda capital do Brasil do século XIX. Alencar percebeu que a sociedade era movida principalmente pelo dinheiro e estava preocupada com o status social que o poder aquisitivo dava. Como em Senhora, em Lucíola temos a luta entre o amor e o interesse, desta vez travada pela personagem principal, a rica cortesã Lúcia. E mais uma vez, uma personagem feminina é o centro das atenções, cheia de sarcasmos, ironias, riqueza, sedução, independência e controle de sua própria vida, até então características predominantemente masculinas, em contraste com os ditames da sociedade.

Em Lucíola, conhecemos Maria da Glória, uma jovem que aos 14 anos fora seduzida por um homem mais velho e devasso em troca de dinheiro para salvar seus familiares doentes. Expulsa de casa pelo pai, Maria muda seu nome para Lúcia e começa a ganhar a vida na prostituição. Lúcia agora é uma cortesã de luxo, rica e caprichosa, sedutora e sarcástica, que explora seus ricos amantes, por quem manifesta  grande desprezo. Certo dia, aos 19 anos, conhece Paulo da Silva, um jovem recém chegado ao Rio de Janeiro e que se apaixona por ela. Este fica dividido entre seu amor e os comentários dos amigos sobre a prostituta. De um lado uma mulher que, sendo de todos, jurava não se prender a nenhum homem, de outro um homem em dúvida entre o amor e o preconceito. 

O foco do autor é justamente essa briga entre a força regeneradora do amor puro e uma vida de pecados e devassidão, mostrando que o amor pode mudar a mais imoral das pessoas e superar as barreiras do preconceito. Por um lado, Paulo irá perder um pouco de sua inocência e irá cometer erros levado pelo orgulho – sendo que irá reconhecer suas falhas e pedir perdão. Por sua vez, Lúcia será "purificada", deixando de ser a cortesã para redescobrir a adolescente virgem e pura que fora um dia. 

Um livro fora do comum, já que sua heroína foge dos padrões, sendo uma cortesã, mas ainda dentro da estética romântica, já que a personagem muda de lado e busca a redenção; e recheado de críticas à sociedade carioca imperialista preconceituosa e interesseira (não muito diferente dos dias de hoje), que eu muito recomendo. Boa leitura!


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