19/02/2016

Livro: Terrores da Noite

Título: Terrores da Noite
Autor: Martin Cruz Smith
Editora: Nova Cultural
Ano de Publicação: 1977
Número de Páginas: 242
Minha Avaliação: ♥ ♥ ♥ ♥

"Sua voz é um murmúrio, suas asas largas e etéreas, os dentes afiados como facas e eles têm um apetite insaciável. Terão de chegar logo à tribo Hopi, porque a opção, viver ou morrer, deve ser feita antes de anoitecer."

Esse é mais um daqueles livros que minha mãe encontrou perdido nas suas caixas de bagunças. Assim como foi com A Profecia, quando ela o encontrou, me entregou. E assim como aquele, este também tem ainda o preço - 27,00 cruzados - colado na capa (acho que mainha gostava de manter os preços, só pode). Pelo nome, Terrores da Noite, a minha vontade de lê-lo surgiu. E foi isso que fiz, o li. E agora vou contar para vocês o que achei do suspense escrito em 1977 por Martin Cruz Smith.


Smith criou um livro de terror e suspense, digamos, na medida. Não é super empolgante ao ponto de você devorar o livro em dois dias, mas também não é tedioso ao ponto de você levar meses ou abandonar a leitura. Pelo menos foi o que achei. Acho que isso influenciou para que o livro virasse best seller na sua época. Isso e o foco dado aos personagens humanos da história. Assim como Tubarão, do seu tempo também, a vida das pessoas é bem destacada, os personagens principais são os protagonistas e os "terrores da noite" - no caso de Tubarão, o "terror marítimo" - são apenas antagonistas, secundários. Isso no livro. Terrores da Noite também teve filme e pelo que ouvi falar, um típico filme trash dos anos 70. Provavelmente deve ter acontecido o mesmo que com Tubarão, deram ao personagem título o foco de protagonista. Mas isso são outros quinhentos, vamos ao livro.

A história basicamente é a seguinte: a trama se passa na região desértica do Arizona, nos Estados Unidos, onde a maior parte da paisagem é seca e formada por cactos e canyons rochosos, que me lembrou aqueles filmes de faroeste onde passa rolando uma bola de palha e feno. A maioria dos personagens são índios das tribos navajo e hopi, o que traz à obra alguma informação sobre essas tribos indígenas no quesito cultura e costumes. As crenças hopis são pano de fundo para a trama. É baseado nessas crenças que um índio hopi idoso chamado Abner realiza um ritual buscando trazer o fim do mundo e vingar os assassinatos e humilhações sofridos pelos seu povo desde a descobertas das Américas até hoje. Sua vingança é trazida pelos ares, hospedada em certos seres de hábitos noturnos e de dieta hematófaga: morcegos-vampiros.

Os Desmodus rontundus - morcegos-vampiros -  começam então a  atacar durante a noite, claro, rebanhos e seres humanos de forma apocalíptica. Mas a vingança de Abner não é apenas morcegos matando seres humanos e gerando carnificina. Os morcegos-vampiros trazem consigo um inimigo microscópico, silencioso, pestilento e mortal. Esse inimigo existe desde o início das civilizações e já matou mais que Hitler, Stalin e Mussolini juntos: a peste bubônica. Junto com as estranhas mortes, obra dos morcegos, começa uma epidemia de peste nas reservas indígenas que atinge índios e brancos sem preconceito. Começa então uma árdua luta pela salvação dos condenados, liderada pelo delegado hopi Jovem Duran e sua namorada branca Anne, com o auxílio de um especialista em morcegos, o branco Hayden Paine. 

O que eu mais gostei no livro foi conhecer os morcegos-vampiros. Existem muitas espécies de morcegos, frutívoros, insetívoros e hematófagos, mas o Desmodus é realmente uma criaturinha fascinante. O bichinho é capaz até de caminhar no solo apoiando-se nos dedos (é, eles têm asas, mas morcegos não são aves, lembre-se, são mamíferos, então também têm dedos), e ler a visão da história pelo ponto de vista deles foi interessante. A forma cruel como pensam sobre o "Alimento" e a frieza com que caçam esse Alimento é impressionante. 

Acho que o livro se perdeu um pouco nessa história da vingança do velho hopi, apenas. Acho que faltou o autor mostrar mais os motivos que levaram o índio a buscar vingança. Um ponto interessante do livro é o embate cultural, político e econômico que ocorre entre as tribos navajo e hopi. Enquanto aqueles caminhavam em direção à modernização, investiam em negócios milionários e se tornavam cada vez mais como os "brancos", os hopis mantinham-se agarrados às suas origens e crenças e eram contrários às atitudes dos navajos. Podemos perceber bem essa divergência nos embates entre o delegado hopi Jovem Duran, e Walker Chee, o líder navajo. Diante do problema com os morcegos-vampiros, essas diferenças ficam muito mais do que evidentes. 

No mais, é um bom passatempo. Se você tem em sua rotina diária muitas horas de metrô e ônibus, pode servir como acompanhante para passar pelo tédio desses momentos, já que o livro consegue prender a leitura da forma como falei no início da resenha. Boa leitura!


2 comentários:

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