HQ: A Última Tentação

Título: A Última Tentação 

Autores: Neil Gaiman, Alice Cooper

Ilustrações: Michael Zulli

Tradução: Érico Assis

Editora: Mythos Books (selo da Mythos Editora)

Número de Páginas: 164

Ano: 2016 

Minha Avaliação: ♥ ♥ ♥ ♥ ♥

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"Quando você se torna a coisa que assusta, não há nada para se ter medo, nunca mais."

Não sou muito de ler HQ's. Mas quando tomei conhecimento desta, praticamente exigi ao dono que me emprestasse o exemplar dele. Estou quase não devolvendo de tão linda que é rsrs. É realmente uma tentação essa história em quadrinhos, criada por Neil Gaiman em parceria com o roqueiro Alice Cooper, e com ilustrações de Michael Zulli. Em A Última Tentação, o imaginário se confunde com o real e sua vida nunca mais será a mesma depois que você conhece o Showman!

Pra que não sabe, Alice Cooper é uma persona criada por Vicent Damon Furnier, cantor, ator e compositor norte-americano. Os anos 1970 foram o auge de sua carreira no rock n' roll, criando o chamado Rock Terror. Deu uma caída na década seguinte, para renascer das cinzas na década de 1990. Com um visual um tanto quanto gótico, seus shows e suas letras eram sempre chocantes para o público: bonecos de vodu, guilhotinas, cobras vivas, letras obscenas e macabras, etc. Já atuou em vários filmes de terror, o mais recente e destacante foi ao lado de Johnny Depp com direção de Tim Burton, Sombras da Noite. Seu álbum The Last Temptation foi um álbum conceitual (as músicas contribuem para um mesmo efeito final ou contam uma história única) lançado em 1994, desenvolvido em parceria com o escritor Neil Gaiman. O roteiro do álbum fez tanto sucesso, que Neil propôs os quadrinhos, com ilustrações de Michael Zulli.

A história da HQ é a seguinte: Steven é um garoto pré-adolescente bem medroso. Daqueles que são motivo de chacota dos amiguinhos na escola, mas mesmo assim querem "fazer parte da turma". Vive numa pequena cidade com o pai e a mãe. Na véspera de Halloween, quando voltava da escola com os amigos, Steven se depara com um beco nunca visto antes. Os garotos adentram o beco e dão de cara com um inusitado teatro anunciando seu Grand Guignol, onde um estranho mestre de cerimônias oferece um único ingresso gratuito. Pessoas que ouvem os pais se lembrariam daquela velha premissa "não fale nem aceite nada de estranhos", e é meio que por esse caminho que os amigos de Steven seguem. Mas ele é desafiado pelos colegas e, para mostrar que não é medroso (mesmo se cagando), ele aceita o convite do Showman. Lá dentro, Steven conhece o Teatro do Real, "onde os pesadelos fazem seu poleiro e a escolha de partir ou ficar é sua - mas, de qualquer maneira, a vida nunca mais será a mesma". Ele recebe então uma tentadora proposta do cerimonialista esquisito. A escolha é de Steven, mas o prazer pertence ao Showman! 

"É a atração suprema. O único entretenimento que lhes dá o puro e integral maravilhar. Tal banquete de espantos seus olhos hão de contemplar. Tal cortejo terpsicórico de puro e indizível deleite."

Dividido em três atos, a HQ segue o rumo do terror psicológico de uma forma muito bem desenvolvida. Possui uma grande referência ao Grand Guignol, teatro francês do fim do século XIX, que tinha como espetáculo cenas de brutalidade e horror naturalista (era preciso médicos a postos para cuidar daqueles espectadores que desmaiavam). A história nos leva a pensar na vida e em como a difícil realidade da vida adulta que está por vir pode mexer com a cabeça de uma criança. As cenas das conversas em frente ao espelho nos remetem a infância, quando falamos consigo mesmos sem conseguir revelar nossas frustrações e medos para outra pessoa. Quando criamos um alter-ego que nos entende e nos apresenta maravilhas capazes de suprimir essa confusão. No caso do Showman de Alice Cooper, essas maravilhas vêm disfarçadas, pois não passam de ilusões que podem levar ao fim, afinal sempre tenha em mente, "nada é de graça", por mais que te digam que seja. Ela me lembrou o livro A Sala do Tempo, do brasileiro Renan Bernardo. Não sei se ele se inspirou na HQ, mas lembra um pouco.

Eu fiquei maravilhada com a riqueza de detalhes de Zulli, e mais maravilhada com Neil Gaiman. Preciso mais dele em minha vida, cada dia tenho mais certeza disso. Deu vontade de conhecer o álbum da "Tia Alice"; músicas como Lost in America, Bad Place Alone, e You’re my Temptation chegam a ter trechos citados enquanto outras como Sideshow, Nothing is Free, Stolen Prayer, Unholy War, Lullaby, It’s me e Cleansed by Fire são mencionadas indiretamente. Os fãs vão à loucura! Aquele gostinho de quero mais do final contribuiu para minha vontade de querer mais histórias do tio Gaiman. 

E que edição, amigos! Mythos Books está de parabéns, é a coisa mais linda do mundo (Pedro, eu não vou te devolver, desculpa rsrs). Tem a proposta original que Neil Gaiman mandou para Alice Cooper, bem como os roteiros originais, uma galeria de capas apresentando a arte de Dave McKean (Batman: Asilo Arkham, Sandman), e um posfácio de Michael Zulli, apresentando uma completa nova peça de arte pintada de A Última Tentação, criada especificamente para esta edição. Nem preciso dizer que recomendo né? Boa leitura e cuidado com o que te oferecem "de graça" por aí...

Algumas imagens da HQ para vocês sentirem o drama (clique nas imagens para uma melhor visualização):

Cara de um, focinho do outro

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