09/01/2015

Livro: O Pagador de Promessas

Título: O Pagador de Promessas
Autor: Dias Gomes
Editora: Bertrand Brasil
Ano de Publicação: 2005 (esta edição)
Número de Páginas: 173

"Não, Padre, foi a Santa Bárbara! Foi até a igreja de Santa Bárbara que prometi vir com a minha cruz! E é diante do altar de Santa Bárbara que vou cair de joelhos daqui a pouco, pra agradecer o que ela fez por mim! "

Na quarta-feira passada, a Rede Globo re-exibiu a minissérie O Pagador de Promessas de 1988, com José Mayer no papel principal, em formato de telefilme no programa Luz, Câmera 50 Anos. A minissérie foi baseada no filme homônimo de 1962, que fora baseado numa peça teatral também homônima escrita por Dias Gomes. É dessa peça que irei falar hoje.


A história da peça, publicada em formato de livro devido ao sucesso, é dividida em três atos e se passa na minha terrinha, Bahia, na década de 60; começa com uma promessa. Zé do Burro, como é conhecido pelos habitantes da cidadezinha onde mora, pede que Santa Bárbara salve seu burro de estimação, que fora ferido por um galho de árvore durante uma tempestade. Quando já havia tentado de tudo para salvar seu grande amigo Nicolau (o burro), Zé vai até um terreiro do candomblé de Iansã e pede por um milagre, prometendo levar uma cruz de madeira tão pesada como a de Cristo até o altar de uma igreja de Santa Bárbara. Para quem não sabe, Santa Bárbara ganha o nome de Iansã nos terreiros de candomblé.

Depois de ver Nicolau saudável de um dia pro outro, Zé resolve cumprir sua promessa, mas descobre que a igreja de Santa Bárbara mais próxima fica em Salvador, a 350km de onde mora. Já que não havia mais jeito e devoto como era, Zé do Burro parte a pé com uma cruz de madeira nas costas até Salvador, levando sua esposa Rosa, sem parar para descansar. Chegam a Salvador de madrugada, alojando-se nas escadarias da igreja dedicada à santa. São interpelados pelo sedutor Bonitão, que se aproveita da ingenuidade de Zé do Burro para seduzir Rosa. A mulher resiste no início, mas acaba por passar a noite com ele em um quarto de hotel. 

De manhã cedo, Zé encontra o padre da igreja e lhe conta sobre sua promessa. O padre já estava quase cedendo à vontade de Zé de entrar na igreja com a cruz, quando descobre que Nicolau era um burro de quatro patas. E para piorar, que a promessa foi feita no terreiro de Iansã. Por causa disso, o padre impede Zé de entrar na igreja. Obstinado, ele insiste em permanecer, ignorando os apelos da mulher para partirem. Zé do Burro torna-se assunto na cidade e acaba alvo de um repórter sensacionalista, que distorce os fatos e o retrata como um Messias que apoia a reforma agrária. Marli, uma prostituta apaixonada por Bonitão, descobre a traição de Rosa e conta para Zé. Já Bonitão, decidido a se livrar dele para ficar com Rosa, chama a polícia e a faz acreditar nas histórias dos jornais sobre Zé do Burro, levando-os a crer que Zé era um perigo para a sociedade. Enquanto isso, o bispo tenta convencer Zé a mudar sua promessa para poder entrar na igreja. Mas cabeça dura como era, Zé permanece invicto com sua promessa. Será que ele vai finalmente conseguir cumpri-la?
 "A obra foi apresentada ao público em um período de turbulência política, poucos anos antes do início da ditadura militar. (...) O Pagador de Promessas traz à tona uma série de conflitos entre o Brasil rural e o urbano, muito evidente na onda de modernização que atravessava o país ao longo da década de 50 e 60. Tais conflitos, na peça, são sintetizados pelo embate entre a crença popular, o sincretismo que formou a tradição religiosa brasileira, e o dogmatismo, o ritualismo rigoroso e a burocratização da igreja. "- educação.globo
 O Pagador de Promessas é uma obra magnífica. Apesar de ter alguns tons de comédia durante toda a história, retrata muito bem o abandono e o descaso que sofria a população pobre do país naquele período (que difere pouco de hoje), que nem uma simples promessa feita por um homem do povo, simples, sem estudo, pode pagar. A discriminação à outras religiões também é muito bem retratada: mesmo onde há o sincretismo religioso, prometer à Santa Bárbara num terreiro de Iansã era tido como uma ofensa aos dogmas cristãos, porém lavar as escadarias da igreja no dia da santa era permitido. E claro, a corrupção e ganância da sociedade, onde o jornal para se promover deturpava toda a história de Zé do Burro. Agora que já recomendei, tenha uma boa leitura!


Um comentário:

  1. Eu assisti ^^
    Mostra como a fé do povo é grande, gostei :)

    |A Beautiful Lie|

    Criei um grupo para que os blogueiros possam trocar comentários uns com os outros. Foi uma maneira que pensei para poder conhecer o trabalho de cada um. Se quiser pode participar:
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    bjs

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