Autor: Jorge Amado
Ano: 1937
Editora: Record
Número de Páginas: 256
“Sob a Lua, num velho trapiche abandonado, as crianças dormem.”
Contém alguns spoilers.
Do grande escritor baiano Jorge
Amado, Capitães da Areia retrata a vida de um grupo de crianças de rua que
vivem do furto chamados de capitães da areia, e tendo sua história ambientada na
Salvador dos anos 30. Foi publicado pouco depois da implantação do Estado Novo
no Brasil, época também que o estado baiano passava por uma epidemia de varíola
(bexiga), e onde a polícia se destinava à caça de menores infratores, encontrando
prazer em torturá-los sem nenhuma justiça.
Neste livro, conhecemos a
história de mais de 50 meninos de rua, dentre os quais se destacam o líder Pedro
Bala, adolescente de 15 anos, loiro e cuja paternidade desconhece, vive nas
ruas desde os 5 anos e conquistou a liderança do grupo dos capitães da areia
após derrotar o antigo líder, onde também adquiriu uma cicatriz no rosto; Volta
Seca, afilhado de lampião, odeia a polícia e sonha em se tornar cangaceiro; Professor,
amigo e conselheiro de Pedro Bala, mediador do grupo; Sem Pernas, garoto coxo
que serve de espião para o grupo se passando por órfão desamparado, odeia tudo
na vida e sempre implica com os mais novos e os novatos – em um momento do
livro, Sem Pernas é acolhido por uma família sem filhos que gostava dele e queria
lhe cuidar como se fosse seu; o menino fica balançado e tentado a largar a vida
das ruas, porém acaba traindo a família e ajudando os grupos dos capitães a
assaltar a casa. Gato, malandro que se apaixona por uma prostituta; Pirulito, o
único muito religioso e que dava valor aos dizeres cristãos do padre José
Pedro, que ajudava cuidando dos meninos, e acabava por pagar caro por isso
muitas vezes; Boa Vida, João Grande, Querido de Deus, Almiro – que morre de
varíola logo no início – entre outros, também fazem parte do grupo.
E por fim temos Dora, a única “capitã
da areia”, que ao ficar órfã da mãe por causa da varíola, ela e o irmão Zé
Fuinha acabam por se juntar ao grupo dos Capitães. Inicialmente os meninos
queriam estuprá-la, mas foi defendida por Pedro Bala e Professor, ambos
apaixonados por ela, porém ela só tinha olhos para Pedro. Depois se torna uma
espécie de mãe e irmã dos meninos, cuidando de todos e ajudando nos assaltos.
Um dia, em um assalto, alguns dos
capitães foram pegos, dentre eles Pedro Bala e Dora. Porém os únicos mantidos presos
são os dois, Pedro é torturado pela polícia, mantido na solitária e enviado
para o reformatório, já Dora vai para um orfanato. Depois de um tempo, os
capitães conseguiram libertar Pedro Bala e Dora, infelizmente ela já estava
doente e pouco tempo depois, junto com os garotos, acaba falecendo, não sem
antes se entregar a Pedro Bala. Depois disso, os capitães seguiram a vida.
A juventude já chegava para
alguns. Pedro descobre que era filho de um líder sindical morto em uma greve e
mais pra frente também se torna um líder comunista, deixando a liderança dos
Capitães de Areia, Sem Pernas morre num confronto com a polícia, Gato vai embora
com sua prostituta para Ilhéus, Pirulito vai trabalhar com o Padre José Pedro
na capela nova, Professor vai embora para o Rio de Janeiro e se torna pintor,
Volta Seca realiza seu sonho de ser cangaceiro no grupo de Lampião, entre
outros casos. Alguns continuam na mesma vida de roubos, surras, doenças,
brigas, fome e miséria.
Sua obra foi perseguida pelo
governo ditatorial, e muitos exemplares deste e outros livros e outras obras de
outros autores também foram queimados em praça pública, em Salvador, com a
acusação de se tratar “objetos de propaganda comunista” e “nocivos à sociedade”.
Nociva é a sociedade que não abria os olhos para o que acontecia ao seu redor,
e vivia da hipocrisia de querer livrar o mundo de “pestes” como os garotos do
Capitães de Areia, mas enchia a boca para falar que pregava solidariedade e o
amor ao próximo. Coisas que, infelizmente ainda acontecem até hoje. Já parou
para pensar que os livros de Amado sempre tratam de assuntos sócio-político-econômico
do país do século passado, mas são temas ainda presentes (infelizmente) na
sociedade atual? Acho que é por isso que eu gosto tanto desse autor, e
recomendo este e todos os outros livros dele! Boa leitura!
Por Mariana Oliveira
Por Mariana Oliveira
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