26/04/2018

Livro: O Menino do Pijama Listrado

Título: O Menino do Pijama Listrado
Autor: John Boyne
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2014
Número de Páginas: 190
Minha Avaliação: ♥ ♥ ♥ ♥ ♥
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"O garoto era menor do que Bruno e estava sentado no chão com uma expressão de desamparo. Ele vestia o mesmo pijama listrado que todas as outras pessoas daquele lado da cerca, e um boné listrado de pano. Não tinha sapatos ou meias, e os pés estavam um pouco sujos. Nos braços, ele trazia uma braçadeira com uma estrela desenhada."

Sim, a passagem acima se refere a Shmuel, o menino que usava um "pijama" listrado e que dá nome a um dos livros mais famosos do escritor John Boyne. Super aclamado pela crítica e com mais de 5 milhões de cópias vendidas pelo mundo afora, além de ganhador de inúmeros prêmios,  O Menino do Pijama Listrado é de uma leitura simples, fácil de entender, numa linguagem quase infantil, mas ao mesmo tempo tão bem escrito que beira a perfeição, como disse o jornal The Irish Independent. Foi o primeiro livro a me fazer chorar de soluçar. E olha que eu o li durante o que deveria ser uma das épocas mais felizes do ano, o carnaval (na Carnatona)!

A primeira vez que ouvi falar dessa história foi na verdade sobre o filme. E inclusive quando tive acesso pela primeira vez à Netflix na vida, foi o primeiro filme de lá que assisti. Claro que a emoção com o final do filme também foi tamanha, mas quando eu cheguei na leitura, a coisa foi pior/melhor porque eu já sabia o que iria acontecer (as duas obras diferem em pouquíssimos detalhes), então o chororô foi praticamente durante todo o livro.

"A mãe sorriu e depositou os copos sobre a mesa. 'Tenho mais uma frase para você aprender', ela disse. 'É a seguinte: temos que procurar fazer o melhor de uma situação ruim." p. 20

A história gira em torno do menino Bruno e seu olhar infantil sobre o mundo que o cerca. Bruno, interpretado no filme por Asa Butterfield (A Invenção de Hugo Cabret), tem nove anos de idade e viveu durante uma das épocas mais terríveis da história da humanidade. Mas ele não tinha a menor ideia disso. Para ele, na verdade, esta seria a época mais terrível de toda sua vida simplesmente porque ele e sua família estavam de mudança. Teria que deixar para trás sua escola, seus três melhores amigos, seus avós e sua linda casa, cheia de quartos e lugares legais para explorar, para ir morar muito afastado da cidade, Berlim, numa casa menor, com menos quartos e praticamente sem lugares legais para serem explorados. Sem vizinhos, sem os avós e sem outras crianças da sua idade para brincar. Somente árvores rodeavam a casa, e os soldados que trabalhavam com seu pai, passando por dentro da propriedade o tempo inteiro.

"'Nunca deveríamos ter recebido o Fúria para jantar', ela disse. 'Certas pessoas e a sua determinação em subir na carreira'. "p. 42

Logo ele descobre que a mudança era "culpa" do "Fúria", o homem para quem seu pai - no filme seus pais são interpretados por David Thewlis (Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban) e Vera Farmiga (Invocação do Mal 1 e 2) - trabalhava. O pai de Bruno havia sido promovido e agora teria novas funções, e por isso precisava se mudar para mais próximo de onde trabalharia. O tédio logo toma conta da sua nova vida, e Bruno continua insistindo que deviam voltar para a sua antiga casa. Até que ele vê da pequena janela de seu quarto, lá longe, depois da floresta, um lugar diferente, todo cercado e cheio de soldados tomando conta, com umas casinhas simples de madeira, e umas pessoas que passavam o dia inteiro vestindo pijamas listrados. 

"'É só isso que interessa a vocês, soldados, afinal', disse a avó, ignorando completamente as crianças. 'Ficas bonitos nos uniformes alinhados. Fantasiando-se para fazer as coisas terríveis, terríveis que vocês fazem. Eu me envergonho. Mas culpo a mim mesma, Ralf, não a você'." p. 85

Com o sonho de ser um explorador quando crescesse, Bruno resolve começar as explorações logo agora enquanto criança, e escondido de todos, vai até o local esquisito. Lá chegando, ele se depara  com um menino, aparentemente da mesma idade que ele, que se vestia como todos os outros (com o que Bruno acreditava ser um pijama listrado), porém um pouco sujo e muito magro. O menino lhe diz que seu nome é Shmuel  - interpretado por Jack Scanlon no filme -, e que não sabe porque ele e seu pai foram parar naquele lugar. E, mesmo separados pela cerca, logo os dois acham um jeito de brincar e travam uma singela amizade. Infelizmente, o que os dois não faziam ideia era do rumo que essa amizade inocente tomaria.

"'Polônia', disse Bruno, pensativo, medindo a palavra na língua. 'Não é tão boa quanto a Alemanha, é?' Shmuel franziu o cenho. 'Por que não?', perguntou ele.
'Bem, porque a Alemanha é o maior de todos os países', respondeu Bruno (...). 'Somos superiores'.
Shmuel encarou-o sem dizer nada, e Bruno sentiu um forte desejo de mudar de assunto, pois, enquanto dizia aquelas palavras, havia algo a respeito delas que não soava correto, e a última coisa que queria era que Shmuel pensasse que ele estava sendo mal-educado." p.100

Pra quem não entendeu, o livro se passa durante a Segunda Guerra Mundial. Bruno, ao que parece, é filho de um oficial nazista importante, e seu pai é promovido pelo próprio Führer - ou seja, Hitler - e o qual Bruno não consegue acertar o nome e chama de Fúria mesmo. O que ele, em sua inocência infantil, não sabe, é que foram morar próximos de um Campo de Concentração (pelo nome utilizado por Bruno - que também não consegue expressar direito - provavelmente se trata do campo de Auschwitz) e, o que seu amigo Shmuel e todos os outros moradores judeus do campo estão vestindo são roupas de prisioneiros, e  não pijamas. E que, quando alguns desses prisioneiros desaparecem, é porque foram levados para as famosas e cruéis câmaras de gás utilizadas pelos nazistas para exterminar quem não fosse considerado ariano (raça pura).

"Todo dia Bruno perguntava a Shmuel se podia rastejar por sob o arame para que pudessem brincar juntos do outro lado da cerca, e todo dia Shmuel respondia que não, que não era uma boa ideia.
'Não sei por que você quer tanto vir deste lado', disse Shmuel. 'Não é muito bom'." p.132-133

O legal do livro está justamente na forma inocente como uma história tão triste e cruel nos é narrada. Mesmo sendo ficcional, provavelmente era assim que muitas crianças da mesma idade de Bruno e Shmuel, tanto as alemãs quanto as judias, entendiam (ou não) o que estava acontecendo naquela época. A ingenuidade dos dois, mais principalmente de Bruno, é o que conduz o livro, até durante seu final triste e meio que esperado. E a forma como o escritor escreve a história, parece que é um menino escrevendo. Mas eu não diria que seja um livro infantil. Juvenil, pode até ser, mas o peso por trás do enredo não sei se seria compreendido com toda clareza de sentimentos por uma criança. Mas é um livro lindo (apesar de se passar numa época horrível) e que merece ser lido e lembrado para sempre. Boa leitura e prepare os lencinhos!

"(...) Então Shmuel fez algo que nunca havia feito antes: ele ergueu a parte de baixo da cerca como sempre fazia quando o amigo lhe trazia comida, mas desta vez ele estendeu a mão por baixo e a manteve lá, esperando até que Bruno fizesse o mesmo. Os dois meninos apertaram as mãos e sorriram um para o outro. Foi a primeira vez que eles se tocaram." p.152-153

Trailer da adaptação:



7 comentários:

  1. Oi Mariana,para ser bem sincera , não tenho ainda coragem de ler o livro. Sei que vou ficar bem triste. Principalmente quando há crianças envolvidas .
    Recentemente vi alguns trechos do filme, justamente na parte mais triste. E mesmo sem ter visto desde o princípio, fiquei mal.

    Bem,mas ainda vou ler. Só me falta um pouquinho de coragem.

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  2. Oi Mari,
    Também já assisti a adaptação, como li o livro, e os dois mexeram comigo de forma profunda, ao mesmo tempo que era bonito ver a inocência de uma criança, era triste saber toda a história por trás. A cena em que Bruno se machuca, e um "médico" - que na vdd é judeu - cuida dele é de emocionar, como ele não entende que o homem foi afastado de seu trabalho de forma horrível..
    Eu sempre indico o livro, e como você, chorei, em cada pedaço.
    Beijos

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  3. Eu li o livro, e fiquei desidratada de tanto chorar!
    Acabou comigo o fato de serem crianças tão inocentes numa época tão terrível, e eles viram nessa sincera amizade um modo de tentar passar essa fase horrível.
    Não tive coragem de ver o filme, porque aí é acabar comigo em dose dupla :/

    beijinhos
    She is a Bookaholic

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  4. Oi!
    Ouvi falar do filme faz algum tempo, mas só depois descobrir que tinha um livro, a historia parece ser linda, emocionante, ainda mais lendo pois estamos em contato direto com as emoções dos personagens, ainda não assistir nem li, pois é um livro bem sofrido, mas quero ver se algum dia assisto e leio !!

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  5. Ainda não li nada de John Boyle, mas, lendo sua resenha, houve um equilíbrio na história: um tema forte como o de uma guerra, e, por outro lado, contado por uma criança, com toda a sua inocência.

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  6. Olá,
    Não sou fã de livros que falam sobre guerra e nunca tive vontade de ler esse livro.
    Esse livro parece ser bem triste.
    Tbm não assisti o filme, mas sei como acaba por causa de uma pessoa sem noção que me contou o final.

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  7. Esse é definitivamente um dos meus livros favoritos que se passam durante a segunda guerra mundial só perdendo apenas para Menina que Roubava Livros a sinceridade desse livro é uma coisa simplesmente maravilhosa que mostra a inocência de duas crianças Eu sinceramente não consigo evitar derramar lágrimas no processo dessa leitura

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